Já faz um tempo que tenho tido de Deus a graça de conversar com colegas e amigos sobre conflitos pessoais e desafios ministeriais, e quase sempre eu tenho aprendido muito mais do que eles imaginam. Às vezes é custoso conversar com o pastor em sofrimento, mas é extremamente abençoador.
Caminhamos com um nível de isolamento muito grande em nosso meio. A falta de hombridade e a ausência de empatia tem ajudado a muitos colegas mergulharem em seus labirintos até se encontrar em um “beco sem saída”. Nesses dias eu tenho refletido sobre essa realidade.
Os sinais de declínio no público pastoral com nefastos acontecimentos têm mostrado a imperativa necessidade de se estender as mãos para cuidar de quem cuida. Em resposta a percepção dessa realidade, a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, tem trabalhado em prol do desenvolvimento da cultura da mentoria, visando a partir de um precioso tempo de vivência e compartilhamento das experiências ministerial tratar os efeitos corrosivos da cultura do isolamento ministerial e ofertar direcionamento preventivo para qualidade de vida pessoal, familiar e ministerial do pastor.
Mas não podemos fechar os olhos para as distorções acerca do tema em questão, Mentoria Pastoral. Dentro dessa temática ampla, farei um recorte dentro do tema, a Banalização da Mentoria Pastoral.
A banalização anda por todos os cantos, e também em todos os cantos. Mentoria Pastoral, é indiscutível a sua importância e necessidade no contexto ministerial hodierno, mas é uma pena que tenhamos tão cedo deturpado o seu valor e significado. Vejamos algumas evidências dessa banalização:
1ª Evidência – Essa deturpação é vista quando neófitos ou iniciantes no ministério pastoral, para alcançar espaço e seus objetivos no ministério, apressadamente lançam sobre alguém, geralmente a quem eles presumem ter o poder de lhe ajudar, o status de “seu mentor”, mas assim que termina o primeiro dia eles se quer preservam a consideração que afirmavam ter, agora eles já são o que por um momento deixaram de ser, autossuficientes, e rapidamente se transformam em ministros altamente experimentados. O autoengano é terrível. É uma pena que tal deforma e o jogo de interesse continua maculando a nobreza do ministério e aferindo danos a realidades tão importantes, a semelhança da Mentoria Pastoral.
2ª Evidência – A outra espécie de deturpação, efeito da banalização, é vista no oferecimento descuidado para se tornar mentor de alguém, como se a mentoria fosse um meio de afirmar a relevância pessoal e de se auto afirmar como um líder de influência. Não, Mentoria Pastoral não é um meio de compensar as faltas, os complexos e carências pessoais. A Mentoria Pastoral pode ajudar também no tratamento e restauração dessas enfermidades que tem corroído a muitos líderes cristãos, para que o servo de Deus caminhe de maneira saudável, tranquila e desassombrado quanto aos fantasmas da baixa resolução existencial, afastamento de Deus e atravessamentos personalísticos. Mentoria está a serviço da cura substancial, não da manutenção das enfermidades.
3ª Evidência – Este aspecto da banalização e deturpação da Mentoria Pastoral está em chamar de Mentoria Pastoral tudo que é encontro, aproximação para o cafezinho, reuniões informais e encontros ocasionais sem objetividade. Geralmente é assim, tira-se uma foto e publica-se como sinônimo de mentoria. Vejam, isso faz transparecer que a Mentoria Pastoral é algo sem forma e objetividade, e o equívoco reside em sempre confundir informalidade, espontaneidade, diálogo amigável e aberto como algo sem objetividade e diretividade. Assim, mentoria fica subtendida como jogar conversa fora, simplesmente; mentoria é desfragmentação por meio da fala sem nenhuma possiblidade de contrapartida orientadora. Ora, tem alguma coisa errada aí, pois se tudo é mentoria, nada é mentoria.
4ª Evidência – consistem na percepção da Mentoria Pastoral como instrumento de poder. Ela passa a ser usada como um meio de constituir uma tribo para se afirmar como cacique. Nesse entendimento, o mentor é confundido com a figura do guru. Assim, fica fácil interferi e manietar as autonomias circundantes. Mentoria Pastoral não é instrumento de poder, é ferramenta de serviço nobre, que faz nascer, como consequência, a estima, consideração e a possibilidade de ser ouvido, ouvir e ser levado em conta sem imposição.
Viva a banalização generalizada! Salve a mentoria, se for possível.