Em junho de 2009 eu assumi meu primeiro ministério pastoral efetivo. Antes, eu já havia atuado como missionário plantador e revitalizador de igrejas no Tocantins e Minas Gerais.
Ao assumir a igreja, logo me deparei com uma situação um tanto quanto desafiadora: pregar pelo menos três vezes por semana. Considerando que gastamos em média 10 horas para preparar um sermão (isso varia de pregador para pregador, está bem?), imediatamente senti as dificuldades que todo pastor enfrenta. Não que um missionário também não pregue, não é isso, mas geralmente o trabalho missional é mais elementar; ou seja, pregamos o B, A, BÁ da fé para pessoas que estão começando; já na igreja local é diferente, precisamos prover o alimento sólido para um público heterogêneo.
O fato é que dentro de pouco tempo eu quase entrei em desespero, afinal, como ter assunto para pregar “para as mesmas pessoas” semanalmente? Como não ser repetitivo? Como pregar com consistência? Como ser fiel ao Senhor na principal função para a qual Ele me chamou – Pregar a Palavra. A resposta para todas essas questões encontra-se na Exposição Bíblica.
Pela graça de Deus, no início de 2011 eu ingressei no Curso de Especialização em Pregação Bíblica Expositiva, Prega a Palavra, curso esse que me capacitou a olhar para as Escrituras de uma maneira infinitamente melhor do modo como eu as via até então e, mais, também pela graça de Deus, já faz oito anos que me tornei colaborador deste curso como professor.
A princípio, a questão que se coloca é a seguinte: O que é um sermão expositivo? Ou, do que se trata a Exposição Bíblica?
Ainda que não seja algo tão simples definir o que é um sermão expositivo (ou a exposição bíblica) em relação aos demais sermões, porque muitas vezes ao tentar definir algo nós tendemos a desfigura-lo, gosto muito da proposta de David Merkh[1] quando diz que “exposição bíblica é explicação aplicada”. Mas para não ficar apenas no simples, tomo emprestado a definição apresentada pelo eminente Pastor e Professor Karl Lachler, que é uma espécie de síntese do pensamento de diversos autores, ele declara: “O sermão expositivo é um discurso bíblico (…) derivado de um texto no idioma pátrio derivado de um texto independente, a partir do qual o tema é revelado, analisado e explicado, através de seu contexto, sua gramática e sua estrutura literária, cujo o tema é infundido pelo Espírito Santo na vida do pregador e do ouvinte”[2] (grifo meu). Em simples palavras, na exposição bíblica o texto reina. É como disse João Crisóstomo: “no sermão expositivo Deus fala mais e o homem fala menos” (grifo meu).
Face ao acima exposto, quero compartilhar oito grandes vantagens de se pregar expositivamente, farei isso em dois artigos, então esse é o primeiro. Para tanto, em parte, vou seguir os passos do Prof. Karl Lachler em seu livro Pregue a Palavra. Isso porque ele diz que: [Quando o Espírito Santo inspirou o apóstolo Paulo a escrever “prega a palavra” (imperativo; 2 Tm 4.2), ele tinha boas razões. Afinal, Deus falou coisas dignas de serem ouvidas. Ele falou sobre assuntos de interesse de toda a humanidade com exatidão espantosa. “Prega a palavra” é uma frase que exprime convicção e convoca à exposição.]
A pregação expositiva baseada em livros da Bíblia livra-nos da tarefa dúbia de inventar temas para a pregação a cada domingo. A invenção de temas é um trabalho que consome tempo e devora nossa energia. É o que aconteceu comigo nos meus primeiros anos de ministério, por mais que eu lesse a Bíblia, com menos de dois anos de ministério eu já considerava desistir, pois, às vezes, chegava no sábado à noite (e até minutos antes da hora do culto) sem saber o que iria dizer ao povo. Que lembrança horrível! Deus foi muito gracioso comigo e com aquele povo. Outra questão dos temas é: quem pode ter certeza de que o tema selecionado é a escolha de Deus? Mesmo esta sombra de dúvida mina nossa convicção espiritual necessária para pregarmos estes temas. A pessoa que prepara sermões a partir de um livro da Bíblia já tem um tema geral dado por Deus, ao lado de outros temas de apoio nos parágrafos de pregação. Nada disso depende da invenção humana. Com um recurso rico como este, o pregador não precisa esgotar suas energias para provar sua capacidade de inventar. Ele fica livre para estudar o parágrafo da pregação na qualidade de Palavra de Deus. Ele tem liberdade para decifrar o tema divinamente inspirado e pregá-lo com bastante convicção. Tal convicção é exatamente o oposto das dúvidas incômodas que muitas vezes acompanham temas arquitetados pelo homem.
Numa íntima relação com isto, temos a segunda vantagem de expor temas bíblicos de uma forma natural. O expositor que segue através dos livros da Bíblia tem os temas de Deus para pregar, na sequência em que eles aparecem. Ele não tem de adaptar a força os temas a certos problemas que surgem durante a semana. Para os pastores é uma grande tentação manipular seus próprios temas para atacar ou resolver problemas do momento. Os pregadores que cedem a isto são, muitas vezes, vistos como intrometidos e não são dignos de inteira confiança. A razão disto é que estes pastores colocam suas ovelhas na defesa. A exposição de temas bíblicos, à medida que surgem na série prescrita, anula a maior parte das acusações de que o pregador está tentando atingir certos membros. Numa série de exposições as pessoas sabem que o texto não foi selecionado por causa de qualquer “ira messiânica” no pastor. Recordo-me de um episódio em que preguei sobre um tema bem sensível e se não fosse o fato de estar fazendo a exposição do livro inteiro, eu teria vários problemas. Um querido irmão chegou para mim e disse: “pastor, de outra sorte, o Sr. teria gerado um tumulto enorme”.
Uma dieta balanceada. A Palavra de Deus é alimento para alma (mente) e espírito. Na pregação expositiva, o pregador não tem de impor categorias “evangelísticas” ou “de edificação” a seu sermão. A Palavra de Deus destina-se a ser todas as coisas para toda a humanidade. Ela traz o novo nascimento a alguns e concede edificação moral a outros, segundo o desejo do Espírito. Recordo-me certa vez de que uma amada irmã me interpelou sobre isso. Ela perguntou “se o Sr. não pregar no mês de maio sobre a família como será?” Eu respondi: pregando em livros, Deus fala para a família não só em um mês, mas praticamente o ano todo; mostrei para ela que quando expomos a Escritura toda, nós falamos para a família, para a nova geração, para o novo e o velho, para o homem, para a mulher, para o líder, para a igreja, para crente e para o descrente. Ela se convenceu, ainda bem. Por que? Porque é a Palavra de Deus, não a inteligência do pregador, que faz com que um cristão cresça em sua salvação.
A propósito, temos aqui outro princípio amortecedor de tensões para ministros de qualquer lugar: a Palavra de Deus em si é tanto evangelística quanto edificante. O Espírito Santo aplica a Palavra segundo convém, à semelhança dos dons carismáticos. As epístolas do Novo Testamento foram escritas para cristãos. Assim mesmo, tais mensagens tiveram efeito salvífico sobre os não-salvos que as ouviram e leram nas igrejas. Nossa preocupação principal não deve ser com o fato de pregarmos um sermão evangelístico ou de edificação. Devemos nos concentrar em pregar a palavra e, assim, contar com o Espírito de Deus que fará com eficiência as aplicações.
Confiança veemente na suficiência das Escrituras. Com grande frequência o expositor tem consciência da autoridade divina que acompanha sua mensagem. Em seu coração ele sabe que é Deus quem fala e nem por um momento presume que o poder seja seu. Ele realmente sente a alegria de ser um poderoso porta-voz de Deus. Portanto, a maior preocupação de um pregador não é ser criativo (muita embora também haja espaço para a criatividade) ou descobrir a roda, mas, antes de tudo, sua grande preocupação deve ser um fiel intérprete do que Deus disse por meio de um escritor bíblico devidamente inspirado pelo Espírito Santo.
“Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nessas coisas. Dessa forma, salvarás tanto a ti mesmo como os que te ouvem” – 1Tm 4:16
Essas primeiras quatro grandes vantagens vieram sobre minha vida e ministério, como chuvas que regam a terra, e, acredito veementemente que a Exposição Bíblica, em certa medida, salvou o ministério que o Senhor me entregou.
Por: Francisco Lima – Prof. de Exposição Bíblica, pastor da PIB em Santo Antônio de Jesus – BA
4 Comments
Excelentes motivos pelos quais pregar a Palavra. Parabéns pr Francisco Lima.
Parabéns querido colega!.
Nobre pastor parabéns pela sua disposição em mostra outros nortes no tocante da preparação de sermões, grato pela sua vida.
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