A sintomatologia: amor ao poder; ações coordenadas pela mentira, dissimulação e trapaça; sabotagem; desejo de ser como Deus; absoluta aversão a crítica; orgulho de si mesmo
Um personagem político baiano, costumava dizer que gostaria de ter a metade do poder que um soldado de polícia pensava que possuía. Parece que ele via muito mais expressão do que realidade na referida figura. Recupero essa lembrança não por que eu queira fazer algum tipo de crítica ao referido profissional a quem o antigo político se referia, mas para dizer que o rei Herodes, embora fosse rei, pensava ter um poder que de fato ele não possuía. Mas é sempre assim com quem já cedeu à sedução do poder.
Imaginar que alguém pudesse se aproximar desse poder lhe causava desassossego. Seu amor ao poder teve implicações gravíssimas para a vida dos outros. Ele assassinou a sua esposa Mariana, e mandou degolar dois filhos, sob acusação de suposta conspiração; intentou contra a vida do próprio Deus, e não obtendo sucesso, protagonizou um infanticídio tão medonho que materializou a profecia de Jeremias (31.15), que só de pensar causa contração na alma: “Em Ramá ouviu-se uma voz de lamento e grande pranto; era Raquel chorando por seus filhos e recusando-se a ser consolada, porque eles já não existem” (Mt 2.18).
A síndrome herodiana é filha amada da síndrome de Lúcifer. A avidez por determinada posição orientada pelo amor ao poder, nunca fez bem a ninguém. Especialistas da história, cientistas do comportamento humano contemporâneos, por meio de suas pesquisas, constataram o que já se sabia há muito tempo pela narrativa bíblica, que o poder seduz e tem um vírus que trabalha para corromper o homem e torna-lo vicioso, mesquinho, hipócrita e cruel.
Causa espanto a mentalidade diabólica de Herodes e os intentos de seu coração luciferiano. Poucos homens foram grandes como ele em suas obras expressivas e crueldades qualificadas. Entretanto, o que mais fascina é a manifestação serena, silenciosa, educada e firme da soberania divina em frustrar intentos de homens maus e expor a tenebrosidade de seus terríveis corações. Os magos estavam bem intencionados, foram em busca do Rei dos Reis, mas não se deram conta de que ao conversar com Herodes eles estava buscando a informação certa perante a pessoa mais errada da face da terra. As vezes os homens tentam encontrar o Rei Jesus, mas buscam informações em fontes erradas. Outras vezes, quem dá informações sobre o outro, não o faz para o seu bem, há um velado desejo de prejudicar disfarçado de boas intenções. Já viu aquele “amigo”, logorreico, dominador, logomaníaco, que abre você em bandas quando se sente ameaçado no imaginário poder que ele julga possuir? Se não viu, agradeça, e peça a Deus para não ver.
Diante da informação dos magos, de que estavam procurando pelo “rei dos judeus recém-nasacido”, “o rei Herodes perturbou-se, e com ele toda a Jerusalém”. Mas, perceba que ele não perdeu a compostura, pelo contrário, com a sua terrível deforma de caráter e do coração, que lhes renderam uma terrível habilidade dissimuladora, ele demonstrou interesse em recepcionar o contato dos magos, se proveu de muitas informações, em seguida os enviou a Belém e pediu retorno, queria ser avisado para também “adorar” o Deus que se fez homem, o pequeno rei. Era exigente, e se julgava merecedor de devolutivas e respostas, afinal, ele era rei. Que coisa terrível! Quanta ardilosidade. Ele era Herodes, em qualquer universidade do mundo ele seria professor número um no curso de PhD em dissimulação e maquiavelice. Parece que Judas foi diplomado com louvor em uma dessas universidades.
Não estou convencido, se a semelhança de Herodes, ainda há pessoas que supõem ter em si um poder e um prestígio tão grande que não medem esforços para tentar fazer convergir a sensibilidade e o bom senso alheios para sua insensatez travestida de boa intenção e prudência. Eu só sei que tal comportamento é uma das faces do suposto poder desconfigurado e da sede de absoluto domínio que sobrepuja corações vazios, idólatras e perdidos. E tenho certeza, que o exercício do poder e autoridade sem o entendimento de que eles emanam de Deus, e a ausência da cruz de Cristo no horizonte como referência, é um desastre. Pois, faz o homem se sentir Deus, e todo homem que deseja ser Deus, com muita facilidade a única coisa que ele consegue ser é um Diabo super slip on colchon inflable.
A carta de Filipenses capítulos dois, descreve admiravelmente as atitudes, comportamentos e os passos de Jesus Cristo. Ele não teve por usurpação o ser igual a Deus, assumiu a forma de servo, se humilhou, admitiu a cruz, e, Deus lhe deu um nome que está acima de todo nome. Foi Deus, o pai, a quem ele honrou com a sua vida, que lhe deu legitimamente honra, prestígio, fama, poder, autoridade e glória. Olhar e imitar a Jesus Cristo em todo tempo é o antidoto para a síndrome herodiana. Olhando para Ele e seguindo seus passos não existe motivos para ter medo de Herodes, cuidado sim; Deus vai avisar aos magos para voltarem por outro caminho; Deus avisará a(os) José(s) para tirar a sua vida do iminente perigo; Deus a seu tempo, destituirá os dominadores cruéis; Deus manterá os seus em vida e vigor para cumprir seu propósito e missão, pois em conformidade com o seu ser, Ele pode todas as coisas.
O Senhor, o rei, o salvador, o verdadeiro herói, Jesus Cristo, é simplesmente fascinante. Ele não sabia das tramas, estava indefeso, mas aonde nasceu, por onde passou, estava sob o precioso olhar e favor de Deus. Em Belém, no Egito, na Galileia, na desprezível Nazaré, Deus estava com ele, e de lá o chamou. Para o pódio? Não, para a cruz. E da cruz, para a eterna glória! Concedida por homens? Não, pelo próprio Deus mesmo.
A melhor maneira de ser uma nova versão de Herodes, o Grande, é desejar ardentemente ser grande como ele, resistir e desprezar a pessoa e o reinado do verdadeiro Rei, Jesus Cristo. Aquele que teve diante de si a oferta para usar o poder ao seu bel prazer, obter os reinos deste mundo ignorando a cruz, o domínio de Deus e ser senhor de si mesmo, cuja resposta foi, “para trás de mim Satanás”, Jesus Cristo, ele é o antídoto para a síndrome herodiana.