Os tempos atuais não têm sido muito favoráveis ao cristão. É bem verdade que mesmo em épocas em que o cristianismo possuía uma maior influência, as coisas não eram tão bonitas assim, mas nos últimos anos, a situação geral não tem sido nada agradável. Os ataques perpetrados por diversos setores da sociedade, pela mídia, pela política e defensores de filosofias modernas, são constantes e numerosos. Não se persegue ou mata cristãos neste país oficialmente, mas são inegáveis a perseguição ideológica e a censura daqueles que reivindicam ser os detentores do novo status quo, contra aqueles que insistem em subverter o mundo, tendo a mente de Cristo. Sem contar o levante massivo de falsos mestres que a igreja tem enfrentado, que com suas invenções mil, querem ressignificar o “ser cristão” e, aliado com a sutil doutrinação pós-moderna, engana a muitos desavisados, que afirmam seguir a Jesus, pensando e agindo de um modo odioso Àquele que é três vezes Santo.
Humanamente falando, o cenário é por vezes desanimador, e infelizmente não é inédito. Esta é uma situação bastante semelhante à de Timóteo, a quem Paulo escreve uma segunda epístola. A comunidade pastoreada por Timóteo estava sofrendo por conta de um falso ensino trazido por homens que se desvirtuaram da fé verdadeira em nome de tendências e ideologias do momento, e Paulo, já ao fim da sua vida – e ainda, preso – escreve ao seu filho na fé, procurando anima-lo, para que este não desistisse, mas mantivesse firme sua vocação e honrasse ao Deus que duplamente o chamou, em meio a tempos adversos.
O texto é uma exortação à perseverança, quando se faz necessário honrar o chamado e zelar do Evangelho, com firmeza e fidelidade ante situações e tempos tormentosos. E, apesar de ter sido inicialmente dirigido a um pastor, é de utilidade de todos aqueles que querem viver piedosamente em Cristo, e por isso se veem em meio a perseguições.
Paulo começa exortando Timóteo a zelar da sua fé e vocação nos versículos de 3-7, apelando à memória do jovem pastor. Ele recorda que sua fé não era nova e que se mantinha sincera, mesmo em meio a tribulações (v.4). O testemunho de Timóteo, que traria alegria ao Apóstolo era o ponto de partida para a primeira instrução amorosa de Paulo. Timóteo deveria se alegrar no Senhor, e reativar o vigor espiritual para exercer seu chamado com intrepidez.
O chamado de Deus é para uma vida de extrema dedicação de forças, tempo e sobretudo, ousadia. Suas características são de poder, amor e moderação; estas, essenciais não somente para um pregador do Evangelho, como para todo cristão.
O Senhor não nos chamou para a apatia, mas para demonstrarmos e anunciarmos Sua glória, em palavras e ações. E para tal tarefa, Ele nos capacitou ao nos dar o Seu Espírito, para que d’Ele testemunhemos (Atos 1.8) e O expressemos por meio de um comportamento equilibrado, misericordioso e longânimo. Estas são provas constantes da ação d’Ele em nós, e é esse aspecto que precisa ser visto em nossas vidas. É nosso testemunho de fé e zelo para com o chamado do Senhor que precisa estar em relevo, para que reconheçam a presença de Deus em nós e a vivacidade de Sua poderosa ação (Mateus 5.16). Podemos, em contrapartida, estar seguros de que o Senhor jamais abandonará os Seus e independentemente de quão hostil sejam os tempos vigentes, Ele estará conosco, nos capacitando e fortalecendo. Assim como fora no passado, a alegria do Senhor será sempre a nossa força.
Além do zelo, Paulo também argumentou acerca da necessidade do jovem Timóteo atentar-se a missão para a qual ele foi chamado: sofrer em prol do Evangelho.
Pode parecer estranho, no mundo de hoje, falar sobre sofrimento, uma vez que o slogan destes tempos e evangelhos mil é “pare de sofrer”. Mas foi esta a honra para a qual fomos chamados (Filipenses 1.29), pois este é o resultado orgânico de uma vida pautada na virtude, amor e moderação divinos. O próprio Senhor Jesus já dizia, ao descrever as características dos crentes nas Bem-Aventuranças, que por causa do fato de nos parecermos com Jesus, seríamos perseguidos (Mateus 5.10). Se odiaram a nosso Senhor, assim também o será conosco.
Este era o chamado de Paulo a Timóteo. Ele não deveria se envergonhar do testemunho do Senhor, ou ser tímido ante a situação que enfrentava. Por mais insana que a aquela mensagem pudesse parecer aos olhos da sociedade e por maior que fossem as represálias, a censura e o preconceito, por parte daqueles que pregavam falsos ensinos e da sociedade em si, esta mensagem – loucura para os homens – era a manifestação do poder de Deus para a salvação dos que cressem, e a obra do Cristo, assunto principal desta Boa Nova, era a irresistível força que o motivaria a, com intrepidez e firmeza, participar dos sofrimentos do Senhor.
Foi por este Evangelho que conhecemos o plano de Deus de nos salvar na eternidade passada, e de concretiza-lo mediante manifestação do Seu Filho, que vindo na plenitude dos tempos, recebeu toda a ira a nós justamente endereçada, desfazendo assim toda a separação, inimizade e morte, outorgando-nos graciosamente a vida eterna e a virtude de servir Àquele que tem em Sua vontade, aquilo que é bom, perfeito e agradável.
Portanto, independentemente da situação, quando olhamos para a cruz de Cristo e tudo o que foi conquistado ali, a única constatação a que podemos chegar é a de que vale a pena padecer toda a sorte de desafrontas e perseguições por esta mensagem. Quando meditamos nesta tão grande salvação e tão honrosa convocação, temos uma irresistível disposição para sairmos ao Seu encontro, levando Sua vergonha, a fim de que esta mensagem cumpra seu santo propósito redentivo.
Como cristãos, devemos observar o exemplo de Paulo, que sofreu pelo Evangelho, não observando a força do contexto ao qual estava inserido, mas, sobretudo, aquilo que Jesus Cristo havia feito por Ele e o que o aguardava ao fim de sua carreira. Quando estes aspectos estão bem esclarecidos em nossos corações e mentes, tudo se torna suportável. Quando conhecemos Aquele que nos guia, todo o caminho, por mais pedregoso que seja, torna-se transponível. E quando sabemos o que Ele preparou para nós, todas as coisas transitórias perdem o seu valor. Assim, passar vergonha na faculdade por ser um crente, ser criticado por guardar valores cristãos, ser perseguido ou censurado por não compactuar com a ideologia dominante, ou até ser rejeitado, agredido e morto por defender com firmeza as verdades escriturísticas, não se compara ao galardão que nos está preparado em Cristo, nos céus. Esta é a exigência, vocação e glória de todo aquele que é chamado participar dos sofrimentos em favor do Evangelho.
Por esta grande Causa, é ordenado a Timóteo a perseverar e preservar a sã doutrina por meio de sua vida e na sua pregação.
À despeito das eras e dos seus costumes, da relativização da verdade, a mensagem cristã deve-se manter inalterada, como é Aquele que a entregou. A certeza da companhia reavivadora do Senhor, do poder e amor de Deus que nos chama à alegria de sofrer por Cristo, também nos impulsiona à fidelidade a esta mensagem. Assim ser a Timóteo e assim deve ser aos santos. Infelizmente os cuidados deste mundo tem feito muitos recuarem e fraquejarem no zelo a Palavra e ao padrão de Deus nela contido. Por temor a represálias, muitos tem abrandado as exigências do Evangelho, apresentando-o como uma mensagem de autoajuda, e a Cristo como uma espécie de “santo protetor”, e não como o Senhor do Céus e Terra. A falta de fidelidade e firmeza na proclamação, exortação, ensino e disciplina tem contribuído para o surgimento deste evangelho fácil, de graça barata, que não fala sobre o pecado e o necessário abandono das práticas ímpias; não fala de arrependimento, do verdadeiro amor de Deus, que constrange o homem e o quebranta, levando-o a odiar aquilo que ofende a glória do Senhor, é um paliativo, um massageador de egos, totalmente diferente daquele que ainda diz “arrependei-vos!”.
Timóteo não poderia ceder às pressões, tampouco diminuir ou regredir ante o que havia aprendido de Paulo. Ele tinha que manter o padrão, ser fiel e exato, sem nenhuma redução, alteração ou hesito na hora de ensinar a igreja e combater os falsos ensinos ali ventilados. Do mesmo modo, somos chamados ao mesmo zelo em nossa pregação e padrão de vida. Jesus desceu dos céus a este mundo e mostrou o seu padrão de vida, que deveria ser imitado, por ser o modelo de homem perfeito, em muito superior ao praticado na época e ensinado pelos escribas e fariseus. Ele mesmo nos ensinou que nossa justiça (piedade) deveria em muito ser superior à dos mestres da lei (Mateus 5.20). Portanto, independentemente do que tentem nos enfiar goela abaixo, temos de ser firmes em nossas convicções e na defesa delas, uma vez pautadas nas Escrituras. Não podemos nos conformar com este século (Romanos 12.2). Não devemos ceder às pressões ideológicas ou físicas, tampouco temer os insultos, taxações e preconceitos. Somos chamados, assim como Timóteo, a mantermos o padrão daquilo que aprendemos do Senhor, confiados que Ele mesmo nos preservará e guardará aquilo que já reservou para nós. Seu Espírito nos fortalecerá, iluminará e conduzirá até recebermos a herança ao fim da corrida que nos está proposta.
Nestas instruções, vemos como Timóteo teria a resolução dos problemas que assolavam a ele e sua comunidade de fé. Renovando em Deus, o vigor do seu chamado, participando com alegria e honra dos sofrimentos do Evangelho e tendo firmeza e fidelidade a sã doutrina. Era por meio de uma vívida fé alicerçada nas Escrituras que o falso ensino seria combatido e as Boas Novas triunfariam naquele ambiente. E assim também o será em nosso ambiente, que em muito se assemelha ao do texto bíblico.
O mundo passará, novos contextos surgirão, mas a Palavra do Senhor permanecerá para sempre. É neste alicerce que podemos nos apoiar, é para o Deus que compôs a Escritura que devemos olhar firmemente e é no Seu Evangelho que devemos meditar para sermos fortalecidos. Os desafios para a igreja podem parecer se agigantar, mas podemos e devemos agir sempre com zelo, vigor, firmeza e fidelidade, na certeza de que maior é o que está em nós, do que o que está no mundo. A Ele seja a glória!
Luan de Almeida da Silva
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