“É necessário que Ele Cresça e que Eu diminua.”
Há poucos dias, conversei com os discentes do curso de Teologia sobre a necessidade de ser paciente, manter a humildade, e respeitar as pessoas e os contextos onde estão ou estarão servindo. Às vezes, o desejo de mostrar serviço produz muitos embaraços e péssimos resultados.
O ministério é cheio de desafios e se você pretende começar e terminar bem, tenha bastante cuidado com a autossuficiência; cultive a paciência, seja prudente. Sente-se corretamente no banco, coloque o cinto de segurança, ajuste os espelhos, observe os passageiros cuidadosamente, vire a chave, atente para as mensagens do painel, use a técnica revestida, com sensibilidade, para distribuir as marchas. Mas não apenas isso, observe também, criteriosamente, as sinalizações e não esqueça que, às vezes, mesmo com a permissão do sistema de sinalização a seu favor, a prudência avisa que é melhor não usufruir dessa permissão naquele espaço temporal. Tenha cuidado com aqueles momentos da viagem em que tudo o que você consegue enxergar à sua frente é uma infinita estrada plana, bem asfaltada e desimpedida, aí é que “mora o perigo”.
Um dia, eu encontrei um senhor sentado em baixo de uma árvore, às margens de uma estrada deserta, não havia nele beleza aparente, mas eu parei minha viagem e sentei para conversar e “aprender”, ali eu fiquei sabendo que alguns obreiros (geralmente descuidados e afobados) são destruídos bem cedo pela antropofagia das raposas velhas, entretanto quase sempre é feliz e agraciado, o obreiro em formação ou um pastor iniciante que tem um obreiro experiente e bem resolvido para ajudá-lo em sua caminhada, um mentor.
Comece bem! Assim disse o nobre e experiente Pr. João Falcão Sobrinho sobre o ministério pastoral em uma de suas obras. Dentre as suas abundantes orientações e conselhos práticos para pastores eu quero destacar dois.
O primeiro, foi um jovem e inexperiente pastor que ao assumir a igreja no sábado, no dia seguinte, pela manhã, apresentou-se no púlpito com o seu diploma de bacharel em Teologia e disse: “Irmãos, aqui está o meu diploma; eu estudei quatro anos e me preparei nas áreas de teologia, filosofia, hermenêutica, história da igreja, administração, educação religiosa e estou capacitado para ser o pastor desta igreja. De hoje em diante, quem dá as tintas nesta igreja em matéria de doutrina, eclesiologia e administração sou eu. Vou colocar este quadro no gabinete pastoral para que cada pessoa, que vier conversar comigo, saiba que esta igreja tem um pastor qualificado”. Na tarde do mesmo domingo, a liderança conversou com o pastor, ele nem precisou desarrumar a mudança completamente. Parece que durante quatro anos no seminário, ninguém o avisou que ele não foi chamado para mandar e sim para servir, ou então ele desprezou o aviso. Ele não se propôs a ouvir.
O Segundo, um outro jovem pastor foi convidado para assumir o pastorado de uma igreja expressiva e tradicional. Ele chegou para substituir um homem intelectual de personalidade forte que tinha passado mais de 40 anos no ministério pastoral daquela igreja, ele tinha falecido, mas sua imagem continuava bem viva. O sábio conselho que ouviu do Pr. João Falcão Sobrinho para lidar com os desafios que estava enfrentando foi: Primeiro, “não mude nada de imediato”. Reconheça o que está em uso e cultive o amor e o reconhecimento pelo obreiro falecido. Segundo, “Pregue a Bíblia, faça sua autoridade pastoral depender da Bíblia”. Terceiro, “evangelize, traga sangue novo para a igreja”. Mais de 30 anos já se passaram desde que o conselho foi dado, esse pastor corre o abençoado risco de se despedir para glória, no ministério pastoral daquela igreja, como um pastor aceito e reconhecido por todos os membros, cidade e denominação. Parece que ele aprendeu o que muitos fazem questão de não aprender, respeitar o passado e não desprezar a imagem de quem merece honra.
O Filho do homem aguardou décadas para se apresentar no cenário público para realizar o seu ministério, esperou concluir o tempo de quem deveria vim antes dele. Como Deus, ele se fez homem, chegou quietinho em uma manjedoura e não levantou o dedinho para dizer que manjava, sendo Rei entrou nas vestes de um simples carpinteiro, não estava fissurado pelo poder e prestígio, ele desejava mesmo era servir, e ensinou pelo exemplo que: até para doar-se em serviço é preciso ter humildade e esperar o tempo certo. O importante não é mandar, é servir, o fascinante não é construir autoimagem, mas conservar e refletir a Imagem
Acabe era invocado, o bicho era doido mesmo. Odiava Micaías, quem era Micaías? Um profeta que em sua independência e comprometimento com o Senhor falava somente o que recebia da parte d’Ele, não tinha disposição para massagear o ego do rei, nem se tornar seu capacho. Acabe foi ainda mais deformado em seu espírito por Jezabel, ele odiava profetas sérios e fiéis ao Senhor, sentia aversão. Mas parece que não é diferente hoje. A diferença entre o Acabe de ontem e os Acabes de hoje é a dissimulação, o Acabe de ontem demonstrava; os Acabes de hoje tentam disfarçar o seu ódio e a sua aversão, mas os Elias e Micaías de hoje percebem e não se amedrontam. Tudo o que Acabe conseguiu, na sua trilha da impiedade e na escola da perversidade com a deformadora Jezabel, foi se divertir um pouquinho com o poder fazendo maldades, e consequentemente comprometendo a própria vida, caminhando firmemente para a morte desonrada.
O rei acabe se foi, porque todo homem, inclusive os reis passam, mas ele deixou um consistente exemplo de como se submeter a pessoas erradas, um legado de impiedade e um passo-a-passo de como ser uma pessoa benquista aos olhos de muitos homens, mas abominável aos olhos de Deus. Terrível coisa é não temer ao Senhor, o Deus que nunca muda e a sua Palavra é a mesma.
Acabe se foi, mas fez escola, o espírito do erro que o conduziu ainda opera em nossos dias. Deus ainda tem os seus Elias e Micaías, esses não temem aos Acabes, não vivem à procura de relevância, não têm medo do ostracismo, eles temem, amam e são fiéis ao seu Senhor. Vivem para ser e fazer o que o seu Senhor deseja, são simples instrumentos em Suas Mãos, ainda que lhe custe a própria vida. Não estão aptos para matar ninguém, mas estão prontos para morrer se assim o Seu Senhor desejar e permitir. Homens da ordem de Elias e Micaías, não se vendem ao jogo do poder, não negociam para terem um lugar na choupana da impiedade disfarçada de corte, vivem nas trilhas da piedade, gostam de servir aos homens, mas o seu lema é: amor, fidelidade e serviço ao SENHOR, o Rei cujo reino é eterno e o seu domínio não terá fim.
Acabe e o seu exemplo causam repulsa, Elias e Micaías, inspiram. Bendito seja o Deus que está acima dos Acabes, bendito seja o Deus que ama homens como Elias e Micaías, e doidos são aqueles que vivem fissurados pelo poder e por causa de sua sobrevivência, permitem-se evoluir de sujeitos religiosos para marionetes da impiedade.
Na perspectiva do Reino de Deus, o poder não está contra os homens, ele está a favor dos homens; na perspectiva do reino o poder não está a serviço da morte, ele está a serviço da vida. Na perspectiva do reino o poder não está a serviço do ego humana (autopromoção), ele está a serviço da GLÓRIA DE DEUS!